terça-feira, 6 de maio de 2014

Ritmo do setor automobilístico preocupa sindicalistas

 

* Por Ivana Andrade

Em meio às turbulências do cenário econômico, com alta de juros, projeção de inflação acima do teto, retração das exportações e vendas internas de veículos, pátios lotados, os rumos do setor automobilístico são preocupantes. Enquanto se espera uma retomada a partir do segundo semestre, as opiniões sobre o quadro atual se divergem. Enquanto o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC está bastante preocupado com o encolhimento da produção, o Conselho Regional de Economia considera a crise passageira.

Para o secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, a crise no setor é real. "Prova disso são as relações paralisadas com a Argentina, um fato importante, pois houve redução drástica na venda de veículos. Além disso, o volume de produção não está sendo atingido e é motivo de preocupação", afirma.

No primeiro semestre, foram exportados 75 mil produtos, o que representa retração de 32,7% na comparação com igual período do ano passado, em razão do comércio com o país vizinho. Já o licenciamento de autoveículos teve queda de 15,2% nos três primeiros meses deste ano em relação com o trimestre de 2013, passando de 283,9 mil comercializados para 240,8 mil unidades, segundo balanço da Associação Nacional de Veículos Automotores (Anfavea).

Santana espera que a crise seja resolvida o mais breve possível, porque já reflete nos setores que integram a cadeia produtiva, como plásticos e autopeças. Acrescenta que as atenções estão voltadas ao trabalhador, diante das medidas adotadas pelas montadoras.

A Volkswagen, que já concedeu férias coletivas duas vezes em 2014, colocou cerca de 900 operários da fábrica de São Bernardo em lay-off (licença remunerada), além de 400 que trabalham na unidade de São José dos Pinhais (PR). O processo, que teve início no último dia 5, terá duração de cinco meses.

Apesar das dificuldades, o secretário-geral se diz otimista em relação ao segundo semestre. No mês passado, representantes do sindicato participaram de reunião com o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que propôs analise de medidas efetivas de melhorias para o setor de caminhões, automóveis e comerciais leves. "Vamos aguardar as medidas do governo", diz.


Chineses na contramão

Já o presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT), Paulo Cayres, não define o momento atual como crise. Explica que há questões pontuais, as quais vêm se repetindo ao longo da história. "É preciso cuidado ao falar sobre o assunto. Se houvesse crise, as montadoras de fora viriam para o País? Seria uma contradição. Empresas chinesas estão anunciando a chegada ao Brasil", afirma.

No entanto, Cayres não descarta os problemas enfrentados pelo setor, que atingem diretamente os trabalhadores. Explica que, em meio à competitividade, as empresas com dificuldades passam por readequação e enxugam o quadro de trabalhadores. "Não concordamos com isso, pois as demissões também oneram. O pior de tudo é que os empregados demitidos em período de instabilidade econômica não são recontratados com a retomada do boom", lamenta.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, Aparecido Inácio da Silva, a situação atual é preocupante e caminha para crise. "O que se espera é que a situação se normalize dentro de 5 meses, tempo necessário para a readequação do mercado. Caso isso não aconteça, a coisa vai ficar feia", calcula.

Sobre as alternativas adotadas pelas empresas em relação aos trabalhadores, como férias coletivas, Silva sugere criatividade conjunta entre as duas partes. "Isso evitaria uma situação dolorosa aos funcionários". Acrescenta que já há rumores sobre outro Programa de Demissão Voluntária (PDV), na General Motors. cuja data não foi definida ainda. Segundo o sindicalista, a GM não conseguiu atingir a meta de 600 trabalhadores no último PDV, aberto em março deste ano. Apenas 348 pessoas aderiram ao programa.


Conselho Regional de Economia diz que a crise não se sustenta

Para o economista, Leonel Tinoco, delegado do Conselho Regional de Economia (Corecon) no ABC o ambiente não é favorável e a recuperação do setor automobilístico não deve ocorrer de imediato. No entanto, diz que a crise é cíclica em função de variáveis, entre elas o preço dos veículos. "Com a obrigatoriedade de freios ABS e airbags, os automóveis ficaram mais caros, gerando custos para as empresas, que são repassados aos compradores", analisa.

Outro fator preponderante, segundo o economista é a inflação, que está próxima da meta para este ano, e deve ultrapassar o teto de 6,5%. Destaca ainda a elevação da Selic - taxa básica de juros pelo Banco Central a 11% ao ano, cujos reflexos no financiamento de bens duráveis são significativos.

Tinoco explica também que o consumidor está mais consciente em relação ao endividamento. "Mesmo com as facilidades oferecidas pelo mercado, não compra carro", diz. Para Tinoco, o crédito está mais seletivo e prazos de financiamentos menores.

O economista chamou atenção para a questão das exportações de carros, cuja queda já ultrapassa 30%. "Essa retração é fruto das medidas restritivas adotadas pela Argentina, que é um mercado importante. Acredito que quando a situação for regularizada, as coisas comecem a melhorar. Mas, a promessa era resolver o problema até abril, o que não aconteceu".


Fonte: Reporter Diário

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