terça-feira, 24 de junho de 2014

Juro baixo em 2013 turbinou inflação atual, dizem analistas

Cresce dentro do governo a convicção de que o Banco Central (BC) errou a mão ao testar qual seria o juro neutro do país, ou seja, qual patamar da taxa básica (Selic) teria neutralidade: não alimenta nem combate a inflação. No início de 2012, a autoridade monetária decidiu mostrar ao país que não seria necessário mais usar taxa de juros em níveis muito altos para conter a alta de preços. Em outubro do mesmo ano, o Comitê de Política Monetária do BC (Copom) derrubou a Selic para 7,25% ao ano, a menor da história. Os juros básicos da economia ficaram nesse patamar até abril de 2013.

Segundo técnicos da própria equipe econômica, foi essa estratégia — arquitetada pelo Palácio do Planalto — que criou o atual problema inflacionário do país.

— Todo esse problema que estamos vivendo hoje começou aí. O BC errou na mão. Se o problema fosse apenas o choque de alimentos, a inflação já teria cedido — disse uma fonte do governo.

A opinião não é restrita aos bastidores do governo. É amplamente difundida entre economistas do mercado.

— Não havia condições para a Selic cair para 7,25% ao ano naquela época: a inflação estava muito alta e a política fiscal estava frouxa. Isso só aprofundou os desequilíbrios da economia — argumentou o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa.

Para Rosa, o resultado da política do BC foi o oposto do desejado: encareceu o custo da política de controle dos preços. Segundo ele, agora, é preciso uma carga de juros maior para colocar a inflação na meta. O economista lembrou que o governo precisou tomar medidas para tentar contornar a situação e interferiu diretamente nos preços das tarifas públicas. Assim, criou mais uma distorção econômica.

— E isso tudo nem ajudou a economia a crescer mais.

Já para o economista-chefe da corretora Gradual, André Perfeito, o BC fez certo ao cortar os juros na época. Ele lembrou que a Europa estava à beira do colapso e diminuir o custo do dinheiro era a melhor saída. No entanto, ele ponderou que o Banco Central errou ao demorar tempo demais para reagir e voltar a aumentar a Selic.

— O BC fez o correto porque em 2012 vivíamos num mundo em que todos os manuais foram rasgados e o experimentalismo reinava na política monetária — ressaltou Perfeito, antes de admitir:

— Mas o Banco Central errou ao deixar a taxa muito baixa por muito tempo.

INFLAÇÃO NO TETO DA META
A Selic foi mantida no piso histórico até abril do ano passado, quando o processo de elevação dos juros foi retomado, com alta em todas as reuniões do Copom. Atualmente, a taxa está em 11% ao ano. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado oficialmente no sistema de metas inflação, acumula alta de 6,37% nos últimos 12 meses.

O objetivo do Banco Central é fazer com que essa inflação fique em 4,5%, com uma uma margem de tolerância de dois pontos percentuais. É nesse limite de manobra que está estacionada a inflação desde 2009. Os analistas mais pessimistas preveem que o IPCA, em 12 meses, estoure o teto da meta já neste mês.

Na quinta-feira, o BC atualizará suas projeções quando divulgar o relatório trimestral de inflação, o seu documento mais importante. No mais recente, o prognóstico não era nada bom: o IPCA não chegaria ao centro da meta nem no primeiro trimestre de 2016. Agora, o quadro pode estar um pouco melhor porque os juros estão mais altos que em março e o dólar está mais fraco.

Fonte: O Globo. (Disponível em Instituto Millenium)

segunda-feira, 23 de junho de 2014

UNIC artigos - Você conhece bem as regras da sua empresa?


Prezado Empresário,

Segue convite para reuniões que serão promovidas através de um comitê tripartite (SIMESPI, Sindicato dos Metalúrgicos e CEREST) para discussão de relevante tema para nossas empresas e trabalhadores:

(confirme sua presença no link disponível no final deste e-mail)




Contamos com sua participação!

Att.

EUCLIDES BARALDI LIBARDI

Presidente

quinta-feira, 12 de junho de 2014

FGV mostra tendência de piora do mercado de trabalho

O Indicador Antecedente de Emprego da FGV piorou 4,5% em maio deste ano na comparação com o mês anterior

O Indicador Antecedente de Emprego (Iaemp) da Fundação Getulio Vargas (FGV), que antecipa tendências do mercado de trabalho, piorou 4,5% em maio deste ano na comparação com o mês anterior.

O indicador é calculado com base nas opiniões de consumidores e de empresários da indústria e do setor de serviços.

Essa é a terceira queda consecutiva do índice, o que, de acordo com a FGV, “sinaliza intensificação da tendência de desaceleração do ritmo de contratações nos próximos meses”.

Entre os principais responsáveis pela queda estão o grau de otimismo dos empresários de serviços em relação à tendência dos negócios nos próximos seis meses, que recuou 8,1%, e o grau de satisfação dos empresários da indústria com a situação atual dos negócios, que caiu 6,5%.

Já o Indicador Coincidente de Desemprego (ICD), que avalia a opinião dos consumidores brasileiros sobre o mercado de trabalho atual, variou -0,8% em relação a abril.

Fonte: Exame

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Um alerta aos presidenciáveis

Meses atrás foi publicado meu artigo: “O que estão fazendo com a nossa economia”, no qual citei alguns trechos do estudo do Boston Consulting Group (BCG)”, no período de 2004 a 2014, do qual destaco: “A indústria brasileira sofreu uma perda substancial de competitividade na fabricação de manufaturados nos últimos dez anos. A alta dos salários e dos preços de energia e a valorização do câmbio aumentaram fortemente os custos de produzir no Brasil, tendência não compensada por ganhos expressivos de produtividade. Em 2014, fabricar manufaturados no país, era 23% mais caro do que nos EUA, um salto drástico em relação a 2004, quando o custo da indústria brasileira era 3% menor”.  

Concluindo, o Brasil foi transformado, na gestão Lula/Dilma, de exportador de produtos manufaturados (2004), a importador de produtos manufaturados (em 2014). Além do aumento de custos acima descrito, 2004 foi quando o presidente Lula declarou a China como economia de mercado. Dela lá para cá, o Brasil vem se desindustrializando silenciosamente. As empresas estão aprendendo a trazer componentes chineses e de outros países, transformando-se em uma empresa comercial, demitindo empregados e gerando emprego no exterior.

O resultado disso, se verifica na balança comercial de 2013, quando as exportações atingiram o valor de US$ 242,17 bilhões, e as importações somaram US$ 239,61 bilhões, com um superávit de apenas US$ 2,56 bilhões, enquanto os produtos manufaturados somaram US$ 195 bilhões, nas importações e US$ 90 bilhões nas exportações, com um déficit de US$ 105 bilhões, o que representa em torno de quatro milhões de empregos gerados no exterior.

Talvez a solução para as empresas seja fazer como a Estrela, a mais tradicional fabricante de brinquedos do Brasil, na década de 90, quando o Plano Collor tirou o dinheiro de circulação e os consumidores passaram a comprar brinquedos baratos trazidos da China, conforme descrito na entrevista concedida pelo presidente Carlos Tilkian, à revista Veja, no último dia 4 de junho, por intermédio do jornalista Otávio Cabral.

Naquela ocasião, a empresa fechou fábricas, fez demissões em massa e entrou em crise. Para sair das cordas, aliou-se ao inimigo, passou a produzir na China, aproveitando uma melhor logística melhor e a menor carga tributária. O mentor dessa estratégia foi o administrador Carlos Tilkian, que chegou à empresa em 1993 e três anos depois assumiu a presidência. A seguir, alguns trechos desta entrevista:

“Depois de quinze anos, a Estrela voltará ao mercado internacional, mas exportando a partir de sua fábrica na China. Exportar do Brasil é inviável hoje em dia? Para  nós, sim. O Brasil cria muitas dificuldades para o exportador, com exceção daquele que quer vender para o Mercosul. Há dificuldade de fluxo de navios, o frete internacional a partir daqui é caro, os portos são deficientes e custa muito mais encher um contêiner. Além dessa dificuldade operacional, há ainda o câmbio valorizado, que tira a competitividade de um produto feito no Brasil. Então, nossa decisão foi exportar a partir da China, onde temos uma fábrica. Lá, existe um fluxo logístico altamente vantajoso, além da questão da moeda, desvalorizada em relação ao dólar. Já que não conseguimos vencer o inimigo, decidimos nos juntar a ele – pelo menos até que o Brasil melhore sua infraestrutura e competitividade.

O senhor imagina que isso possa ocorrer a curto prazo? Não. Para o Brasil melhorar, precisa planejar suas obras e decisões. E não vejo planejamento por aqui.

É difícil planejar no Brasil? É muito difícil. Quando há um rumo a seguir, independentemente de o cenário ser difícil ou não, é possível montar uma estratégia. Gestores de grandes empresas são formados e cobrados para criar alternativas, inclusive em situações desfavoráveis. Há  empresas com quatro ou cinco fábricas no Brasil não por uma questão de logística, mas para conseguir benefícios da guerra fiscal entre os estados. Cada vez mais, grandes grupos nacionais mudam suas sedes para a Europa e os Estados Unidos por causa da tributação que o governo resolveu fazer sobre transferência de lucros entre empresas do mesmo grupo. No nosso setor, começou uma grande migração de fábricas para o Paraguai, por causa da carga tributária menor. Seria muito importante que o próximo governo pudesse finalmente iniciar uma ampla reforma tributária. É difícil, mas alguém precisa ter a coragem de começar.

O Brasil está se desindustrializando? Há uma desindustrialização silenciosa. As fábricas passam a trazer componentes da China, nos moldes das maquiladoras mexicanas. Hoje é raro haver uma indústria de produtos de consumo que não tenha componentes importados em sua linha. Quando ela vende, parece que é tudo nacional. Mas não é. Quando se analisa o que é realmente fabricado no Brasil, a performance da indústria fica ainda pior.

Já que não dava para vencer os chineses, o senhor decidiu se aliar a eles? Foi isso, optamos por nos unir aos inimigos. Não podíamos continuar olhando a China como risco estratégico para o nosso negócio. Hoje, ela é uma vantagem competitiva. Começamos indo mais frequentemente à China. Passamos então a produzir e importar componentes, depois produtos acabados, e, com isso, transformamos uma empresa verticalizada, que tinha quase 10 000 funcionários e produzia tudo, numa empresa que terceiriza a sua produção para a China”.

Aí estão alguns trechos da entrevista do presidente da empresa Estrela, Carlos Tilkian, a qual soa como um alerta para os presidenciáveis à próxima eleição. E eu o reforço, com este artigo, para que não demorarem a tomar as medidas necessárias para a retomada do desenvolvimento, evitando que as indústrias se tornem somente empresas comerciais ou se mudem para o exterior, gerando renda e emprego lá fora e não ao nosso País e à nossa gente.                

(Tarcisio Angelo Mascarim é secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e diretor do SIMESPI)

terça-feira, 10 de junho de 2014

Agora, precisamos competir no mundo’, diz Alexandre Furlan

Recém-eleito vice-presidente Regional da América Latina no Conselho Diretivo da Organização Internacional dos Empregadores (OIE), o empresário Alexandre Furlan diz que o Brasil entrou em um sistema de “garantismo legal” que não deixa espaço para negociações. “Não se pode comparar o ABC paulista ao interior do Mato Grosso ou da Paraíba”, afirmou ao Brasil Econômico , falando de Genebra. Furlan, também vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), diz que o Brasil tem avançado em questões sociais, mas adverte que o país não pode fechar as portas ao comércio internacional. “Primeiro, nos voltamos para resolver as nossas questões internas. Agora, precisamos competir no mundo”, afirmou.

O senhor vai representar o Brasil em uma entidade com interface com organismos e fóruns internacionais importantes. Quais temas são prioritários na agenda da OIE?
A OIE existe desde 1920. Foi criada para representar os empresários na comunidade internacional, em fóruns de trabalho e de políticas sociais. Reflete o “pensamento mundial dos empregadores”, especialmente na OIT (Organização Internacional do Trabalho), tem uma participação no G-20, mas atua em instâncias como o comitê consultivo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o Conselho Empresarial de Desenvolvimento Sustentável, o Pacto Global da ONU e a ISO, de certificação. A OIE tem o propósito de promover um ambiente de negócios melhor para cumprir o nosso papel como empresários, o de gerar receita e emprego. Nossa maior contribuição na OIE tem sido levar para outros países experiências brasileiras exitosas, como o programa “Me Encontrei”, do Senai, e o Pronatec, uma parceria com o governo federal. Temos buscado o avanço na cooperação Sul-Sul.

No Brasil, a questão trabalhista tornou-se um gargalo aos empresários. A CNI diz que a Justiça trabalhista tem extrapolado o seu papel, que gera insegurança jurídica às empresas. Isso ocorre em outros países?
Hoje, me reuni com três representantes do Ministério Público do Trabalho. Tentei explicar que quando se fala em terceirização não estamos falando em precarização do trabalho. As relações de trabalho mudaram muito desde que foi criada a legislação trabalhista, há 71 anos. Modernizar as relações não quer dizer precarizar direitos. Temos que olhar para as enormes heterogeneidades do país e vermos a importância de que, diante de tantas diferenças, as convenções trabalhistas possam valer. As negociações coletivas são previstas na Constituição, mas o Ministério Público diz que não concorda com algo e elas deixam de valer. Há que se respeitar os acordos coletivos. Não se pode comparar o ABC paulista ao interior do Mato Grosso ou da Paraíba. O Brasil entrou em um sistema de “garantismo legal” que não deixa espaço às negociações. Em outros países, como os Estados Unidos, é exatamente o contrário.

Será possível manter o nível de emprego no país?
O problema é que o Brasil demonstra que, mesmo com a Copa, possui um nível de investimento baixo. Se o país não qualificar melhor os trabalhadores, não terá profissionais para atender ao mercado moderno e ficará em situação difícil. Na educação, conseguimos avançar em termos quantitativos, mas não qualitativos. O Brasil tem uma atuação importante em fóruns internacionais e não temos problemas internos, como em outros países em que as condições de trabalho são degradantes. Conseguimos manter em bom nível os postos de serviço. É importante não fecharmos as portas ao comércio internacional. Se há uma suspeita de vaca louca no Brasil, vários países nos fecham as portas. Precisamos mostrar que somos um país no qual se pode ter confiança.

O patamar dos juros no Brasil é um inibidor ao investimento?
Manter os juros em patamar elevado é uma forma que o Banco Central tem para não haver um surto inflacionário. Mas não podemos pensar em juros em 11% ao ano no longo prazo. Precisamos de taxas mais compatíveis com as necessidades dos empresários e que possam influenciar positivamente nos investimentos. Com juros mais baixos, teremos como melhorar os nossos processos produtivos.

As exportações brasileiras não estão em seu melhor momento. O que estamos fazendo de errado?
Os números dos últimos três ou quatro anos, tanto da balança comercial como da produção industrial, mostram que precisamos ser mais competitivos. Já houve momento em que o Mato Grosso, por conta da soja, era responsável por 60% da nossa balança, uma distorção. Temos que mudar muita coisa no país. O modelo assistencialista, que erradicou a pobreza e promoveu a ascensão de 30 milhões de brasileiros à classe média já foi bem-sucedido. Agora, precisamos nos colocar como potência de mercado. Primeiro, nos voltamos para resolver as nossas questões internas. Agora precisamos competir no mundo.

Fonte: Brasil Econômico em 10 de junho de 2014.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

CNI ganha assento no Conselho de Administração da Organização Internacional do Trabalho

Gerente-executiva de Relações do Trabalho da instituição, Sylvia Lorena, foi eleita para fazer parte do colegiado do braço da ONU para a área trabalhista. Escolha é vitória para a indústria no debate mundial sobre o tema.


A Confederação Nacional da Indústria (CNI) conquistou espaço importante nas discussões mundiais sobre o mundo do trabalho. Na segunda-feira (2), a gerente-executiva de Relações do Trabalho da CNI, Sylvia Lorena, passou a integrar o Conselho de Administração da Organização Internacional do Trabalho (OIT). A eleição foi realizada em Genebra, na Suíça, durante a 103ª Conferência Internacional do Trabalho, instância máxima do órgão que reúne governos nacionais, representações de empregadores e de trabalhadores.

O Conselho de Administração é o órgão executivo da OIT responsável por definir políticas da entidade e analisar temas ligados ao mundo do trabalho, ao redor do globo. O colegiado é formado por 56 membros titulares (28 governos, 14 empregadores e 14 trabalhadores) e por 66 membros adjuntos (28 governos, 19 empregadores e 19 trabalhadores). Sylvia Lorena foi eleita como membro-adjunto para um mandato de três anos.

A OIT - Criada em 1919, a Organização Internacional do Trabalho foi estabelecida após a 1º Guerra Mundial. Com uma estrutura tripartite, tem o objetivo de promover normas, princípios e direitos fundamentais do trabalho, gerar empregos dignos, fomentar a proteção social e fortalecer o tripartismo e o diálogo social. O Brasil está entre os membros fundadores da organização.

A Conferência Internacional do Trabalho é seu órgão máximo, que se reúne anualmente, em geral entre os meses de maio e junho, para discutir temas com maior recorrência nos países-membros.

Por Guilherme Queiroz
Foto: Miguel Ângelo
Do Portal da Indústria

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Os que não querem trabalhar

Os analistas do mercado de trabalho concordam que o número de brasileiros que não desejam trabalhar vem aumentando. Mas, eles divergem quanto ao perfil e as razões dos que param de procurar emprego. Alguns privilegiam os jovens que, em lugar de trabalhar, preferem estudar para se qualificar melhor. Outros dizem que a desistência decorre da melhoria da renda das famílias o que permite a muitos jovens ficar sem trabalhar e sem estudar (nem-nem). Há ainda os atribuem à saída dos idosos - e não dos jovens - a principal razão do encolhimento da taxa de participação no mercado de trabalho que recuou de 58% para 56,8% entre 2012 e 2013. Nos Estados Unidos também a taxa de participação caiu de 67% para 62% no período de 2000 a 2013.

Não há dúvida que no Brasil muitas pessoas estão deixando de procurar trabalho. A Pnad Contínua informa que entre o segundo semestre de 2012 e igual período em 2013, 1,2 milhão de brasileiros desistiram de buscar emprego. Isso representou uma redução de 1,9% de pessoas maiores de 14 anos. É interessante notar que o fenômeno foi mais saliente entre os estudantes de faculdades onde a referida proporção chegou a 12%, bem superior à média de 1,9%, ao mesmo tempo em que a taxa de ocupação desse grupo caiu de 75% para 73% (Denise Neumann, "Fies, Bolsa Família e desemprego em queda", Valor, 15/05/14). São jovens que deixam de trabalhar para cursar o ensino superior.

Ao examinar as razões da debandada de jovens e idosos do mercado de trabalho, observa-se haver fundamento para três hipóteses. Ou seja, há jovens que buscam se qualificar mais por não encontrarem o emprego dos seus sonhos com os conhecimentos que possuem e muitos que voltam à escola ajudados pela melhoria da renda familiar e pela ampliação do período de carência e pela forte baixa dos juros do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES) que entre 2010 e 2013, caiu de 9% para 2,4%. Parece razoável considerar que estas forças atuam de modo complementar: a renda familiar melhora, a motivação para se qualificar aumenta e o acesso as facilidades de crédito se ampliam.

Na outra ponta da pirâmide etária verifica-se também uma forte saída de idosos do mercado de trabalho. No ano 2000, cerca de 35% dos brasileiros com 60 anos ou mais estavam trabalhando; em 2011, essa proporção caiu para 26% e hoje deve estar em torno de 25%. A hipótese mais plausível atribui essa saída à expressiva melhoria do valor dos benefícios previdenciários e ao fácil acesso aos programas sociais, em especial, o Bolsa Família.

Ou seja, a opção de não trabalhar tem motivação diferente nos grupos indicados. Os jovens, na sua maioria, adiam a entrada no mercado de trabalho para ficar mais tempo na escola. Os idosos, em lugar de adiar, simplesmente param de trabalhar. Nos dois casos, a melhoria da renda familiar parece operar como um fator facilitador.

A retração da oferta de trabalho no Brasil não chega a ser um problema grave como ocorre em países da Europa ou no Japão onde faltam jovens para trabalhar. Mas, no médio prazo, estaremos na mesma situação com um agravante. Se o atual "pibinho" de 1% saltar para 4% ou 5% ao ano, enfrentaremos uma escassez de mão de obra bem mais severa do que a atual.
No curto prazo, a diminuição do número dos que buscam trabalho traz uma redução da taxa de desemprego e, indiretamente, uma melhoria da renda média. Estas duas conseqüências seriam bem mais benéficas se o desemprego caísse em decorrência de uma forte geração de empregos e se a renda aumentasse como resultado de uma substancial elevação da produtividade. Como nada disso acontece, temos de usar a taxa de desemprego e o aumento da renda com o devido cuidado para não transformar problemas em virtudes.   

José Pastore é professor de relações do trabalho da FEA-USP, presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomercio-SP e membro da Academia Paulista de Letras.

Fonte: O Estado de S. Paulo - 03/06/2014

terça-feira, 3 de junho de 2014

A política do salário mínimo deve ser alterada?

José Pastore: Sim
 
Efeitos colaterais
 
O melhor dos mundos é quando os aumentos salariais são concedidos com base nos ganhos de produtividade. Nessa condição, os aumentos não são repassados aos preços, e as empresas aumentam o lucro. Como conseqüência, consumo e investimentos crescem. É o jogo do ganha-ganha.

O Brasil dos últimos anos, porém, tem vivido uma situação inversa. Os salários vêm aumentando sem uma correspondente elevação da produtividade. Resultado: inflação crescente, investimentos decrescentes e perda de competitividade.

No caso do salário mínimo, a fórmula atual promove o seu reajuste pela inflação do ano anterior e o PIB (Produto Interno Bruto) de dois anos antes. Os dados indicam que, com exceção de 2010 (PIB de 7,5% e inflação de 5,9%), o quadro reflete a inversão apontada.

Em 2009, o PIB diminuiu 0,3% e a inflação subiu 4,3%. Em 2011, o PIB ficou em 2,7% e a inflação bateu na casa dos 6,5%. Em 2012, os números foram novamente divergentes para um PIB de apenas 1% e inflação de 5,8%. E em 2013, tivemos 2,5% e 5,9%, respectivamente.

Pela fórmula, os reajustes captaram mais a inflação do que o PIB e muito menos o PIB per capita (proxy –indicador aproximado– da produtividade). Na verdade, a produtividade no Brasil, com exceção da agricultura, está praticamente estagnada.

Aumentos expressivos de salários sem correspondência em ganhos de eficiência, como os determinados pela fórmula, provocam fortes distorções no mercado de trabalho e nas contas públicas.

No primeiro caso, os reajustes do salário mínimo "atropelam" muitos pisos salariais e forçam aumentos descasados da produtividade –em especial, nas faixas dos salários que são vizinhos do mínimo.

No segundo caso, o atropelo é ainda mais grave. Como estudioso das finanças públicas, Raul Velloso mostra que o salário mínimo transformou-se em um indexador voraz das despesas do governo por conta da fórmula atual. Isso porque 65% dos beneficiários da Previdência Social e 44% do valor total dos benefícios estão atrelados ao salário mínimo. Na assistência social, são 100% dos beneficiários e do valor dos benefícios. No seguro-desemprego e no abono salarial, a indexação é igualmente violenta.

Conclusão: em 2013, 24% dos gastos da União decorreram do salário mínimo. Há 25 anos, eram apenas 3%! Para cada R$ 1 de aumento no salário mínimo, há uma despesa adicional para a União de R$ 350 milhões. Não é preciso ir longe para verificar que esse quadro é insustentável (http://www.raulvelloso.com.br/por-que-e-como-aumentar-a-poupanca-pu...).

Para o Brasil crescer e reduzir efetivamente a desigualdade, a lógica e os fatos recomendam uma modificação na fórmula atual e um atrelamento dos reajustes do salário mínimo aos ganhos de produtividade.

No dia Primeiro de Maio, a presidente Dilma Rousseff decidiu prometer a manutenção da fórmula atual. A gula por votos falou mais alto do que a lógica e o bom senso.

Isso levou os demais candidatos a prometer a mesma coisa, deixando de lado os destinos na nação para garantir um bom resultado na eleição. Lamentável!

Não havia a menor necessidade de se pronunciarem sobre essa matéria no meio do ano eleitoral, porque, pela lei n° 12.382/2011, a avaliação da fórmula deveria ser feita só em 2015, e não em 2014.

Com isso, o (a) eleito (a) terá de se preparar para desmontar a bomba-relógio que ajudou a montar.

JOSÉ PASTORE, 79, é professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomercio-SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo) e membro da Academia Paulista de Letras

Fonte: Folha de S.Paulo em 31 de maio de 2014.