terça-feira, 10 de junho de 2014

Agora, precisamos competir no mundo’, diz Alexandre Furlan

Recém-eleito vice-presidente Regional da América Latina no Conselho Diretivo da Organização Internacional dos Empregadores (OIE), o empresário Alexandre Furlan diz que o Brasil entrou em um sistema de “garantismo legal” que não deixa espaço para negociações. “Não se pode comparar o ABC paulista ao interior do Mato Grosso ou da Paraíba”, afirmou ao Brasil Econômico , falando de Genebra. Furlan, também vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), diz que o Brasil tem avançado em questões sociais, mas adverte que o país não pode fechar as portas ao comércio internacional. “Primeiro, nos voltamos para resolver as nossas questões internas. Agora, precisamos competir no mundo”, afirmou.

O senhor vai representar o Brasil em uma entidade com interface com organismos e fóruns internacionais importantes. Quais temas são prioritários na agenda da OIE?
A OIE existe desde 1920. Foi criada para representar os empresários na comunidade internacional, em fóruns de trabalho e de políticas sociais. Reflete o “pensamento mundial dos empregadores”, especialmente na OIT (Organização Internacional do Trabalho), tem uma participação no G-20, mas atua em instâncias como o comitê consultivo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o Conselho Empresarial de Desenvolvimento Sustentável, o Pacto Global da ONU e a ISO, de certificação. A OIE tem o propósito de promover um ambiente de negócios melhor para cumprir o nosso papel como empresários, o de gerar receita e emprego. Nossa maior contribuição na OIE tem sido levar para outros países experiências brasileiras exitosas, como o programa “Me Encontrei”, do Senai, e o Pronatec, uma parceria com o governo federal. Temos buscado o avanço na cooperação Sul-Sul.

No Brasil, a questão trabalhista tornou-se um gargalo aos empresários. A CNI diz que a Justiça trabalhista tem extrapolado o seu papel, que gera insegurança jurídica às empresas. Isso ocorre em outros países?
Hoje, me reuni com três representantes do Ministério Público do Trabalho. Tentei explicar que quando se fala em terceirização não estamos falando em precarização do trabalho. As relações de trabalho mudaram muito desde que foi criada a legislação trabalhista, há 71 anos. Modernizar as relações não quer dizer precarizar direitos. Temos que olhar para as enormes heterogeneidades do país e vermos a importância de que, diante de tantas diferenças, as convenções trabalhistas possam valer. As negociações coletivas são previstas na Constituição, mas o Ministério Público diz que não concorda com algo e elas deixam de valer. Há que se respeitar os acordos coletivos. Não se pode comparar o ABC paulista ao interior do Mato Grosso ou da Paraíba. O Brasil entrou em um sistema de “garantismo legal” que não deixa espaço às negociações. Em outros países, como os Estados Unidos, é exatamente o contrário.

Será possível manter o nível de emprego no país?
O problema é que o Brasil demonstra que, mesmo com a Copa, possui um nível de investimento baixo. Se o país não qualificar melhor os trabalhadores, não terá profissionais para atender ao mercado moderno e ficará em situação difícil. Na educação, conseguimos avançar em termos quantitativos, mas não qualitativos. O Brasil tem uma atuação importante em fóruns internacionais e não temos problemas internos, como em outros países em que as condições de trabalho são degradantes. Conseguimos manter em bom nível os postos de serviço. É importante não fecharmos as portas ao comércio internacional. Se há uma suspeita de vaca louca no Brasil, vários países nos fecham as portas. Precisamos mostrar que somos um país no qual se pode ter confiança.

O patamar dos juros no Brasil é um inibidor ao investimento?
Manter os juros em patamar elevado é uma forma que o Banco Central tem para não haver um surto inflacionário. Mas não podemos pensar em juros em 11% ao ano no longo prazo. Precisamos de taxas mais compatíveis com as necessidades dos empresários e que possam influenciar positivamente nos investimentos. Com juros mais baixos, teremos como melhorar os nossos processos produtivos.

As exportações brasileiras não estão em seu melhor momento. O que estamos fazendo de errado?
Os números dos últimos três ou quatro anos, tanto da balança comercial como da produção industrial, mostram que precisamos ser mais competitivos. Já houve momento em que o Mato Grosso, por conta da soja, era responsável por 60% da nossa balança, uma distorção. Temos que mudar muita coisa no país. O modelo assistencialista, que erradicou a pobreza e promoveu a ascensão de 30 milhões de brasileiros à classe média já foi bem-sucedido. Agora, precisamos nos colocar como potência de mercado. Primeiro, nos voltamos para resolver as nossas questões internas. Agora precisamos competir no mundo.

Fonte: Brasil Econômico em 10 de junho de 2014.

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