quarta-feira, 11 de junho de 2014

Um alerta aos presidenciáveis

Meses atrás foi publicado meu artigo: “O que estão fazendo com a nossa economia”, no qual citei alguns trechos do estudo do Boston Consulting Group (BCG)”, no período de 2004 a 2014, do qual destaco: “A indústria brasileira sofreu uma perda substancial de competitividade na fabricação de manufaturados nos últimos dez anos. A alta dos salários e dos preços de energia e a valorização do câmbio aumentaram fortemente os custos de produzir no Brasil, tendência não compensada por ganhos expressivos de produtividade. Em 2014, fabricar manufaturados no país, era 23% mais caro do que nos EUA, um salto drástico em relação a 2004, quando o custo da indústria brasileira era 3% menor”.  

Concluindo, o Brasil foi transformado, na gestão Lula/Dilma, de exportador de produtos manufaturados (2004), a importador de produtos manufaturados (em 2014). Além do aumento de custos acima descrito, 2004 foi quando o presidente Lula declarou a China como economia de mercado. Dela lá para cá, o Brasil vem se desindustrializando silenciosamente. As empresas estão aprendendo a trazer componentes chineses e de outros países, transformando-se em uma empresa comercial, demitindo empregados e gerando emprego no exterior.

O resultado disso, se verifica na balança comercial de 2013, quando as exportações atingiram o valor de US$ 242,17 bilhões, e as importações somaram US$ 239,61 bilhões, com um superávit de apenas US$ 2,56 bilhões, enquanto os produtos manufaturados somaram US$ 195 bilhões, nas importações e US$ 90 bilhões nas exportações, com um déficit de US$ 105 bilhões, o que representa em torno de quatro milhões de empregos gerados no exterior.

Talvez a solução para as empresas seja fazer como a Estrela, a mais tradicional fabricante de brinquedos do Brasil, na década de 90, quando o Plano Collor tirou o dinheiro de circulação e os consumidores passaram a comprar brinquedos baratos trazidos da China, conforme descrito na entrevista concedida pelo presidente Carlos Tilkian, à revista Veja, no último dia 4 de junho, por intermédio do jornalista Otávio Cabral.

Naquela ocasião, a empresa fechou fábricas, fez demissões em massa e entrou em crise. Para sair das cordas, aliou-se ao inimigo, passou a produzir na China, aproveitando uma melhor logística melhor e a menor carga tributária. O mentor dessa estratégia foi o administrador Carlos Tilkian, que chegou à empresa em 1993 e três anos depois assumiu a presidência. A seguir, alguns trechos desta entrevista:

“Depois de quinze anos, a Estrela voltará ao mercado internacional, mas exportando a partir de sua fábrica na China. Exportar do Brasil é inviável hoje em dia? Para  nós, sim. O Brasil cria muitas dificuldades para o exportador, com exceção daquele que quer vender para o Mercosul. Há dificuldade de fluxo de navios, o frete internacional a partir daqui é caro, os portos são deficientes e custa muito mais encher um contêiner. Além dessa dificuldade operacional, há ainda o câmbio valorizado, que tira a competitividade de um produto feito no Brasil. Então, nossa decisão foi exportar a partir da China, onde temos uma fábrica. Lá, existe um fluxo logístico altamente vantajoso, além da questão da moeda, desvalorizada em relação ao dólar. Já que não conseguimos vencer o inimigo, decidimos nos juntar a ele – pelo menos até que o Brasil melhore sua infraestrutura e competitividade.

O senhor imagina que isso possa ocorrer a curto prazo? Não. Para o Brasil melhorar, precisa planejar suas obras e decisões. E não vejo planejamento por aqui.

É difícil planejar no Brasil? É muito difícil. Quando há um rumo a seguir, independentemente de o cenário ser difícil ou não, é possível montar uma estratégia. Gestores de grandes empresas são formados e cobrados para criar alternativas, inclusive em situações desfavoráveis. Há  empresas com quatro ou cinco fábricas no Brasil não por uma questão de logística, mas para conseguir benefícios da guerra fiscal entre os estados. Cada vez mais, grandes grupos nacionais mudam suas sedes para a Europa e os Estados Unidos por causa da tributação que o governo resolveu fazer sobre transferência de lucros entre empresas do mesmo grupo. No nosso setor, começou uma grande migração de fábricas para o Paraguai, por causa da carga tributária menor. Seria muito importante que o próximo governo pudesse finalmente iniciar uma ampla reforma tributária. É difícil, mas alguém precisa ter a coragem de começar.

O Brasil está se desindustrializando? Há uma desindustrialização silenciosa. As fábricas passam a trazer componentes da China, nos moldes das maquiladoras mexicanas. Hoje é raro haver uma indústria de produtos de consumo que não tenha componentes importados em sua linha. Quando ela vende, parece que é tudo nacional. Mas não é. Quando se analisa o que é realmente fabricado no Brasil, a performance da indústria fica ainda pior.

Já que não dava para vencer os chineses, o senhor decidiu se aliar a eles? Foi isso, optamos por nos unir aos inimigos. Não podíamos continuar olhando a China como risco estratégico para o nosso negócio. Hoje, ela é uma vantagem competitiva. Começamos indo mais frequentemente à China. Passamos então a produzir e importar componentes, depois produtos acabados, e, com isso, transformamos uma empresa verticalizada, que tinha quase 10 000 funcionários e produzia tudo, numa empresa que terceiriza a sua produção para a China”.

Aí estão alguns trechos da entrevista do presidente da empresa Estrela, Carlos Tilkian, a qual soa como um alerta para os presidenciáveis à próxima eleição. E eu o reforço, com este artigo, para que não demorarem a tomar as medidas necessárias para a retomada do desenvolvimento, evitando que as indústrias se tornem somente empresas comerciais ou se mudem para o exterior, gerando renda e emprego lá fora e não ao nosso País e à nossa gente.                

(Tarcisio Angelo Mascarim é secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e diretor do SIMESPI)

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