quinta-feira, 31 de julho de 2014

Etanol parou, parou por quê?

Tarcisio Angelo Mascarim

Na minha opinião, o trabalho elaborado pelos senhores Marcelo Soares Valente, Diego Nyko, Brunno Luiz Siqueira Ferreira Soares dos Reis e Artur Yabe Milanez, respectivamente, engenheiro, economista, estagiário e gerente do Departamento de Biocombustíveis da Área Industrial do BNDES, em 2011, compreendendo 60 (sessenta) páginas, com o título: “Bens de capital para o setor sucroenergético: a indústria está preparada para atender adequadamente a novo ciclo de investimentos em usinas de cana-de-açúcar?, deveria ser lido pelos candidatos ao cargo de Presidente da República. E mais: o eleito atender a sugestão dos especialistas, para a retomada do setor sucroenergético, duramente penalizado pelas atuais políticas públicas. Segue síntese:

“ Apesar da estagnação dos investimentos do setor sucroenergético, projeções oficiais da demanda por açúcar e etanol brasileiros indicam a necessidade de implantação de mais de 130 novas usinas até 2020-2021, o que equivale a esforço de investimento tão ou mais desafiador do que o realizado na última década, quando foram inauguradas mais de cem novas usinas em cinco anos. Com base em pesquisa de campo com os principais fornecedores de bens de capital sucroenergéticos e grandes grupos de usinas, este artigo tenta responder se o atual parque fabril de máquinas e equipamentos para açúcar e etanol estaria em condições de atender à retomada vigorosa de investimentos em novas usinas sucroenergéticas. Também são discutidas eventuais alternativas para reverter o atual quadro de estagnação de encomendas de bens de capital pelo setor sucroenergético e promover o fortalecimento dos fornecedores dedicados a esse setor.
 
Além disso, a crise de investimentos pela qual passa o setor canavieiro, iniciada em 2009, não tem dado sinais de recuperação, estendendo período de baixo volume de encomendas por novos equipamentos e, com isso, tem gerado conjuntura econômica adversa para vários fabricantes.

De outro lado, com base nas projeções oficiais para os próximos anos de demanda por açúcar e etanol brasileiros, estima-se que seja necessária a instalação de mais de cem novas usinas de cana-de-açúcar, o que equivale a um esforço de investimento tão ou mais desafiador do que aquele empreendido entre 2005 e 2009.

Assim, com base nesse cenário, este artigo busca mapear quais são, de fato, os principais problemas dos fornecedores de bens de capital agricolas e industriais, a dimensão dessa eventual fragilidade e, consequentemente,  os  impactos  gerados  na  cadeia  sucroenergética. Em outras palavras, busca-se responder à seguinte questão: em que medida os fornecedores de máquinas e equipamentos para a indústria sucroenergética podem representar obstáculo para a retomada de investimentos em novas usinas?”

Para responder a essa questão, o trabalho está dividido em seis seções, incluindo a introdução.

“Na seção seguinte, à luz da cadeia produtiva do setor sucroenergético, são feitos o recorte analítico e a caracterização do objeto estudado neste artigo: os fornecedores de máquinas e equipamentos agricolas e industriais. São descritos os processos produtivos existentes nas usinas, bem como os principais equipamentos por elas utilizados. Essa descrição facilita a análise, já que os diferentes tipos de equipamentos e seus fornecedores têm características muito distintas entre si.
 
Na terceira seção, é realizada uma estimativa de investimentos necessários em novas usinas para os próximos anos. Essa estimativa baseia-se em projeções ofíciais de demanda feitas pelo governo federal. Os investimentos projetados, portanto, refletem o tamanho do desafio que se colocaria para os fornecedores aqui estudados, caso as demandas projetadas se concretizassem.

Na quarta seção, são apresentados os resultados de entrevistas realizadas com os principais fornecedores e os principais grupos processadores de cana do Brasil. Para os mais importantes equipamentos do processo agroindustrial das usinas,os entrevistados avaliaram o risco de não atendimento da demanda estimada na terceira seção. Com isso, é possível identificar, na percepção dos entrevistados, os bens de capital que podem se tornar obstáculos caso ocorra retomada vigorosa dos investimentos. Essa análise é feita por meio de três indicadores: um para fornecedores, uma para usinas e um geral.

Em seguida, na quinta seção, são sugeridas possíveis soluções e alternativas para a mitigação dos problemas levantados. Por fim, a última seção traz as considerações finais deste artigo.”

Continuando, da página 122 à página 172, os especialistas apresentam todo o detalhamento das seções, entrevistas, levantamento, necessidades, preocupações e soluções suficientes para a retomada do setor sucroenergético.

Para encerrar a síntese do trabalho, vamos apresentar as alternativas para mitigação dos riscos de oferta de equipamentos, a retomada planejada e sustentada dos investimentos em novas usinas e a conclusão.

“A atual situação de estagnação das encomendas de bens de capital sucroenergéticos tem gerado uma situação econômica adversa para boa parte de seus tradicionais fornecedores, que, se mantida por mais tempo, agravará ainda mais a percepção de risco de oferta identificada neste pesquisa. Assim, somente a retomada de forma planejada e sustentada dos investimentos em novas usinas permitirá a recuperação da capacidade de fornecimento dessa indústria, tanto pela maior utilização de crescente ociosidade industrial quanto pela ampliação de ativos fabris dedicados à produção de equipamentos sucroenergético.

Entre as medidas que poderiam contribuir para essa retomada dos investimentos em novas usinas sucroenergéticas, podem ser destacadas: (i) maiores incentivos tributários ao etanol, como aumento da Cide sobre a gasolina e maior alinhamento do ICMs sobre o etanol em nível nacional à alíquota de São Paulo; (ii) criação de um ambiente de contratação de longo prazo para fornecimento de etanol; (iii) execução de leilões regionais de energia elétrica; e (iv) incentivos tributários à utilização da palha e do bagaço da cana-de-açúcar para geração elétrica.

A necessidade de um cenário mais previsível de encomendas por bens de capital sucroenergéticos decorre do fato de que a experiência cíclica dos investimentos recentes em novas usinas não tem gerado horizonte de demanda confiável e, com isso, aumenta o risco e a incerteza relativos à imobilização de capital em nova capacidade industrial de equipamentos.

Adicionalmente, esse cenário de demanda mais previsível também permitiria melhor planejamento do crescimento das usinas sucroenergéticas, o que ajudaria a reduzir o comportamento cíclico dos investimentos, evitando, assim, a combinação de períodos de excesso e de escassez de demanda por equipamentos sucroenergéticos.

Assim, como consequência de um horizonte de demanda mais bem definido e menos cíclico, os fabricantes de equipamentos sucroenergéticos terão melhores condições de se preparar para atender adequadamente aos investimentos em novas usinas.

Entre as fragilidades que contribuíram para a elevada percepção de risco de oferta de determinados equipamentos pesquisados, destacam-se o reduzido número de fornecedores e a elevada exposição ao setor sucroenergético.

Para atacar ambos os casos, é necessário estímular a diversificação setorial, tanto para atraír para o setor sucroenergético fabricantes dedicados a outros setores industriais quanto para auxiliar a entrada, em novos mercados, de fornecedores mais concentrados em bens de capital sucroenergéticos.

Neste sentido, é oportuno o apoio a investimentos de fabricantes de bens de capital, atuantes ou não no setor canavieiro, na qualificação técnica, na adequação de suas plantas industriais e em capacidade de engenharia para o desenvolvimento de equipamentos. Nesse sentido, o BNDES já dispõe de diversos programas de financiamento capazes de apoiar esse tipo de estratégia.

Além disso, a criação de parcerias ou mesmo fusões entre fornecedores de bens de capital sucroenergéticos com outros fabricantes, atuantes ou não no setor, poderia gerar empresas de maior porte financeiro e cuja gestão permitisse maior diversificação setorial.

Esse movimento pode até ser acelerado pela mudança da natureza patrimonial dos principais grupos sucroenergéticos, com a transição do controle familiar para grandes corporações.
        
Nesse novo contexto, a aquisição de equipamentos passará a ser crescentemente pautada por critérios mais rígidos de capacidade de entrega, qualidade e condição financeira do fabricante, o que poderá induzir à maior concentração de mercado nos fabricantes capazes de atender a tais requisitos.

Portanto, diante desse cenário, o BNDES deverá estar atento a oportunidades de fomento à formação de empresas brasileiras de bens de capital de maior porte, diversificadas setorialmente e cuja capacitação técnica, financeira e administrativa lhe permita atuar não somente nesse cenário doméstico de maior exigência das usinas, mas também como player global preparado para empreender uma estratégia internacional mais agressiva, tanto por meio de exportações quanto pelo investimento em unidades fabris e de serviços no exterior.”
Para finalizar, os especialistas apresentam a conclusão do seu trabalho:

“O setor sucroenergético empreendeu um grande esforço de investimento ao longo do período de 2005 a 2009, o que resultou na inauguração de mais de cem novas unidades industriais. A partir de 2009, contudo, o setor passou a enfrentar período de estagnação dos investimentos e, com isso, experimentou redução significativa das encomendas de bens de capital sucroenergéticos. A continuidade desse cenário tem gerado ambiente econômico adverso para os fabricantes, em especial para aqueles mais dependentes das encomendas do setor sucroenergético.

Por outro lado, dadas as projeções de demanda de açúcar e etanol brasileiros, estima-se que 134 novas usinas, com capacidade de moagem de quatro milhões de toneladas de cana cada, sejam necessárias para atender à demanda projetada para os próximos anos. Isso equivale à instalação de cerca de 17 unidades por safra a partir de 2013/2014.

É dentro desse contexto que, com base na pesquisa de campo com os principais fornecedores de bens de capital sucroenergéticos e grandes grupos de usinas, este artigo procurou identificar se o atual parque fabril de máquinas e equipamentos para açúcar e etanol, mesmo enfrentando um período duradouro de baixo volume de encomendas, estaria em condições de atender a novo ciclo vigoroso de investimentos em novas usinas sucroenergéticas.

Em primeiro lugar, verificou-se que diversos segmentos da indústria de bens de capital que atendem ao setor sucroenergético estão trabalhando atualmente com ociosidade em torno de 50%. Dessa forma, é notória sua percepção de que não teriam maiores problemas para atender a novo ciclo de investimentos em usinas sucroenergéticas tão ou mais intenso do que o observado na década passada.
                 
De outro lado, na visão dos principais grupos processadores de cana, a oferta do segmento de bens de capital não foi completamente satisfatória na última onda de investimentos. Segundo as usinas, diversos equipamentos foram entregues fora das especificações desejadas ou mesmo depois dos prazos previamente contratados.

Como resultado, ficou evidenciada a posição dos fornecedores de que, para a grande maioria dos equipamentos, não haveria problemas de atendimento caso se recuperassem os investimentos no setor. Para eles, apenas um grupo de equipamentos foi considerado de alto risco de oferta. Ao passo que, na visão das usinas, seriam nove equipamentos com maiores dificuldades de atendimento.

Quando se analisa o indicador combinado, três equipamentos aparecem na faixa de alto risco: moenda/difusores, caldeiras e destilarias. Esses equipamentos, além de exigirem longo prazo de fabricação, necessitam de significativa base industrial instalada para sua produção e montagem, mão de obra treinada e especializada e, em muitos casos, engenharia e projetos próprios. Além disso, são equipamentos de grande porte e representam parte significativa do investimento em novas usinas (cerca de 40% do total), o que torna o resultado encontrado foco da maior preocupação.

A atual situação da indústria de bens de capital sucroenergéticos exige atenção. Numa eventual retomada de investimentos nos níveis observados no último ciclo de crescimento do setor, a pesquisa realizada neste artigo, sugere dificuldade de atendimento de equipamentos cruciais para a instalação de novas usinas.

A mitigação desse risco de oferta, contudo, depende necessariamente da retomada planejada e sustentada dos investimentos no setor canavieiro, que, a permanecer estagnado, só agravará a situação atual. Dessa forma, quanto mais tempo durar esse cenário de retração de investimentos e, portanto de baixa demanda por bens de capital sucroenergéticos, maiores serão os riscos associados à oferta de equipamentos essenciais para a construção de novas usinas de cana-de-açúcar.”

Portanto, senhores presidenciáveis, este trabalho dos especialistas do BNDES, - o banco do governo federal -, elaborado em 2011, procura responder a pergunta do título desta síntese: “Etanol parou, parou por quê?. Eu respondo: por falta de políticas públicas adequadas, elencadas neste trabalho.

E mais: atualmente, as empresas de bens de capital para o setor sucroenergético, não estão faturando nem um terço do que faturavam em 2008, com dispensa maciça de seus trabalhadores. Por outro lado os produtores de cana, açúcar e etanol, estão com sua capacidade, praticamente, igual a antes da crise de 2008.

Mais uma informação: conforme estimativa do Brasil/EPE (2011) citada  neste trabalho, a demanda por etanol crescerá 50,7 bilhões de litros até a safra de 2020-2021. Isto representa um aumento de 178% da produção de etanol estimada para atual safra de 2014-2015.

Por outro lado, a demanda por açúcar para o consumo doméstico e externo brasileiro deverá crescer 13,6 milhões de toneladas até a safra 2020-2021, representando um aumento de 34% da produção de açúcar, estimada para a atual safra de 2014-2015.

Para atender a essas demandas projetadas, seriam, então, necessárias, conforme o trabalho, a implantação de 134 novas usinas de grande capacidade, com investimentos em torno de R$ 110 bilhões.

Além da produção de açúcar e etanol, essas novas usinas, poderiam contribuir, também:
- gerando 26.000.000 MW/safra de energia elétrica exportável;
- empregando 1.570.000 pessoas dependentes da atividade;
- evitando 60.600.000 emissões evitadas (tCO2safra).             
   
Como o governo não deu a devida importância a este trabalho, cuja implementação deveria ter começado a partir da safra 2013-2014, podemos afirmar que, se não fosse a política desastrosa imposta à Petrobrás, mantendo o preço da gasolina em baixa, durante todo este tempo, com certeza, já estaria faltando etanol nos postos de abastecimento.

Portanto, senhores candidatos, vamos procurar atender a esse grande projeto, cuja implementação será a retomada do desenvolvimento econômico sustentável do setor sucroenergético, gerando emprego para a nossa gente e renda ao nosso País.
                            
(Tarcisio Angelo Mascarim é secretário municipal de Desenvolvimento Econômico de Piracicaba e  diretor do SIMESPI)         
                   

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