Sílvio
Guedes Crespo
A indústria brasileira aumentou em
17,2% acima da inflação o gasto médio com o pagamento de cada assalariado entre
2007 e 2012. No mesmo período, as remunerações totais dos não assalariados –
sócios – subiram 9,1%, de acordo com cálculos do blog Achados Econômicos feitos
a partir do banco de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística).
Em 2007, a indústria gastou R$ 165
bilhões com seus 6,9 milhões de empregados, em valor atualizado pelo índice
oficial de inflação. Isso dá R$ 23,7 mil para cada funcionário no ano
inteiro.
Em 2012, o setor despendeu R$ 230
bilhões com 8,3 milhões de assalariados, ou R$ 27,8 mil com cada um, em
média.
Os gastos da indústria com todos
os seus empregados, portanto, subiram 39,6% acima da inflação. O dispêndio com
cada assalariado aumentou os 17% já mencionados. Nesses valores estão incluídos
os salários mais os tributos.
Para a remuneração dos
proprietários, a indústria destinou R$ 5,4 bilhões em 2007, em valor atualizado,
e R$ 5,9 bilhões em 2012, uma alta de 9%.
Como os números vão apenas até
2012, eles não pegam a recente retração da economia brasileira, no primeiro
semestre de 2014. Também não incluem a piora da produção industrial registrada
no ano passado.
Mas evidenciam o que tem sido
apontado como uma das causas da baixa competitividade da indústria, a saber, o
aumento das despesas com salários.
No setor de serviços, quando os
salários aumentam, os empresários têm mais facilidade de repassar o reajuste
para os preços ao consumidor.
Já na indústria, fica mais difícil
porque ela concorre com produtos de todo o mundo. Se um industrial brasileiro
aumenta o preço, o consumidor pode recorrer a um produto similar
importado.
Logo, o aumento de salários, se
não for acompanhado por queda de outros custos, tende a reduzir os ganhos dos
empresários da indústria, tornando o setor pouco atraente para novos
investimentos.
Adendo
Alguns leitores comentaram que os
gastos com folha de pagamento não significam, necessariamente, aumento de
salários, pois eles podem ser resultados de elevação de
impostos.
Nesse caso, no entanto,
significam. Primeiro, porque não apenas não houve aumento de tributos sobre a
folha de pagamento como houve, em alguns setores, desoneração desse tipo de
contribuição e substituição por uma taxa sobre o
faturamento.
Em segundo lugar, há outras
pesquisas que mostram aumento de salários na indústria. O Dieese
(Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos)
informou que 76,6% das negociações coletivas na indústria resultaram em aumento
real de salário em 2008.
A proporção foi de 79,3 em 2009, 87,8% em 2010, 86,9% em
2011 e 94,5% em 2012.
Ainda, a consultoria Mercer, em
uma pesquisa
feita no ano passado, constatou que funcionários de nível operacional
tiveram uma alta nominal de 12,5% nos salários de 2012 para
2013.
Devo acrescentar, ainda, que neste
texto não digo que aumento de salários não é bom, como pensaram alguns leitores.
Somente afirmo que os gastos com assalariados subiram mais do que aqueles com
não assalariados. (Fico pensando: se eu disser que está chovendo, as pessoas vão
achar que eu sou a favor da chuva ou contra ela?)
Caso minha opinião interesse
alguém, informo que defendo, como já fiz em outra
ocasião, que a redução de custos dos produtos
industriais brasileiros, tão necessária hoje, pode ser feita de outras formas,
principalmente por meio da melhora na infraestrutura e na qualificação do
trabalhador, que são soluções de médio e longo
prazo.
O maior sinal de que é possível
ser competitivo mesmo com o atual custo do trabalho é o fato de que, na Europa e
nos Estados Unidos, a hora dos empregados da indústria custa mais que o triplo
do valor pago no Brasil. Embora muitas empresas tenham transferido parte da sua
produção para países emergentes, ainda existe indústria, e de ponta, nas nações
desenvolvidas.
* Acrescentado o item 'Adendo' às
13h14
Fonte:
Uol - Acesso em 03/09/2014
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