quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Gasto com empregado da indústria cresce 2 vezes mais que renda do dono

Sílvio Guedes Crespo
A indústria brasileira aumentou em 17,2% acima da inflação o gasto médio com o pagamento de cada assalariado entre 2007 e 2012. No mesmo período, as remunerações totais dos não assalariados – sócios – subiram 9,1%, de acordo com cálculos do blog Achados Econômicos feitos a partir do banco de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
 
Em 2007, a indústria gastou R$ 165 bilhões com seus 6,9 milhões de empregados, em valor atualizado pelo índice oficial de inflação. Isso dá R$ 23,7 mil para cada funcionário no ano inteiro.
Em 2012, o setor despendeu R$ 230 bilhões com 8,3 milhões de assalariados, ou R$ 27,8 mil com cada um, em média.
Os gastos da indústria com todos os seus empregados, portanto, subiram 39,6% acima da inflação. O dispêndio com cada assalariado aumentou os 17% já mencionados. Nesses valores estão incluídos os salários mais os tributos.
Para a remuneração dos proprietários, a indústria destinou R$ 5,4 bilhões em 2007, em valor atualizado, e R$ 5,9 bilhões em 2012, uma alta de 9%.
Como os números vão apenas até 2012, eles não pegam a recente retração da economia brasileira, no primeiro semestre de 2014. Também não incluem a piora da produção industrial registrada no ano passado.
Mas evidenciam o que tem sido apontado como uma das causas da baixa competitividade da indústria, a saber, o aumento das despesas com salários.
No setor de serviços, quando os salários aumentam, os empresários têm mais facilidade de repassar o reajuste para os preços ao consumidor.
Já na indústria, fica mais difícil porque ela concorre com produtos de todo o mundo. Se um industrial brasileiro aumenta o preço, o consumidor pode recorrer a um produto similar importado.
Logo, o aumento de salários, se não for acompanhado por queda de outros custos, tende a reduzir os ganhos dos empresários da indústria, tornando o setor pouco atraente para novos investimentos.
Adendo
Alguns leitores comentaram que os gastos com folha de pagamento não significam, necessariamente, aumento de salários, pois eles podem ser resultados de elevação de impostos.
Nesse caso, no entanto, significam. Primeiro, porque não apenas não houve aumento de tributos sobre a folha de pagamento como houve, em alguns setores, desoneração desse tipo de contribuição e substituição por uma taxa sobre o faturamento.
Em segundo lugar, há outras pesquisas que mostram aumento de salários na indústria. O Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) informou que 76,6% das negociações coletivas na indústria resultaram em aumento real de salário em 2008. A proporção foi de 79,3 em 2009, 87,8% em 2010, 86,9% em 2011 e 94,5% em 2012.
Ainda, a consultoria Mercer, em uma pesquisa feita no ano passado, constatou que funcionários de nível operacional tiveram uma alta nominal de 12,5% nos salários de 2012 para 2013.
Devo acrescentar, ainda, que neste texto não digo que aumento de salários não é bom, como pensaram alguns leitores. Somente afirmo que os gastos com assalariados subiram mais do que aqueles com não assalariados. (Fico pensando: se eu disser que está chovendo, as pessoas vão achar que eu sou a favor da chuva ou contra ela?)
Caso minha opinião interesse alguém, informo que defendo, como já fiz em outra ocasião, que a redução de custos dos produtos industriais brasileiros, tão necessária hoje, pode ser feita de outras formas, principalmente por meio da melhora na infraestrutura e na qualificação do trabalhador, que são soluções de médio e longo prazo.
O maior sinal de que é possível ser competitivo mesmo com o atual custo do trabalho é o fato de que, na Europa e nos Estados Unidos, a hora dos empregados da indústria custa mais que o triplo do valor pago no Brasil. Embora muitas empresas tenham transferido parte da sua produção para países emergentes, ainda existe indústria, e de ponta, nas nações desenvolvidas.
* Acrescentado o item 'Adendo' às 13h14
Fonte: Uol - Acesso em 03/09/2014

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