segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Economia - Liberadas operações no Superporto Sudeste

Investe-se menos, de preferência na expansão de unidades de produção e serviços já em operação, e não em novas, e os investimentos concentram-se em projetos menores e de maturação mais rápida. Estas são as características que os investimentos estrangeiros diretos no Brasil têm apresentado nos últimos anos. Embora os números mais recentes sobre o ingresso desses capitais no País ainda sejam expressivos, a redução do volume de recursos e sua nova destinação apontam para uma mudança que afetará as contas externas e pode ser duradoura, com efeitos sobre o crescimento, a geração de empregos e a competitividade da economia brasileira.

 Dados internacionais compilados pela Organização das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) já mostravam a perda de posição do Brasil entre os principais destinos dos investimentos estrangeiros diretos. Esses investimentos são considerados os melhores que uma economia pode absorver, pois são aplicados na construção de fábricas, em infraestrutura, em empréstimos entre matrizes e filiais de empresas transnacionais e em fusões e aquisições de companhias. Trata-se de um capital que tende a estimular a atividade econômica e a permanecer no país de destino.

 Entre 2012 e 2013, o Brasil caiu do 4.º para o 5.º lugar entre os países que mais recebem investimentos estrangeiros diretos (no ano passado, ficou atrás de Estados Unidos, China, Rússia e Hong Kong). Mesmo assim, continuou a receber um volume expressivo de capitais produtivos, que somaram US$ 64 bilhões. Em 2014, de acordo com a previsão de analistas do mercado financeiro consultados pelo Banco Central para o seu boletim semanal Focus, esses investimentos devem somar US$ 60 bilhões; para 2015, a previsão é de US$ 59,2 bilhões.

 A expectativa dos analistas parece fundamentar-se nos dados divulgados pela Unctad e na tendência de queda dos investimentos estrangeiros no Brasil apontada por diferentes estudos. Um levantamento da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet) mostra que, desde o início do governo Dilma Rousseff, em 2011, os anúncios de investimentos estrangeiros no Brasil vêm caindo. No primeiro ano do atual governo, somaram US$ 163,6 bilhões; em 2012, US$ 65,3 bilhões; em 2013, US$ 62,6 bilhões; e em 2014, nos primeiros seis meses, US$ 26,2 bilhões. Se a segunda metade do ano repetir o resultado da primeira, haverá mais uma queda dos investimentos externos.

 O estudo da Sobeet - cujos resultados foram publicados pelo jornal Valor - constatou que o tempo médio de maturação dos projetos diminuiu de 2,1 anos entre 2010 e 2012 para um ano e meio na média de 2013 e do primeiro semestre de 2014. É uma indicação de que o objetivo dos investidores passou da implantação de novos negócios - entre os quais uma nova montadora de veículos e uma cadeia de hotéis - para a modernização e a expansão das atividades já existentes. São investimentos que, em geral, buscam ganhos de produtividade para defender espaços conquistados no mercado interno e ganhar outros no exterior.
No médio prazo, a redução do volume e do período de maturação dos investimentos externos pode trazer riscos para o fechamento das contas externas do Brasil, que já tem um déficit em transações correntes de US$ 80 bilhões. Com a redução dos investimentos diretos, parcela cada vez maior desse déficit terá de ser financiada por capitais voláteis.

 O que os dados e as projeções de ingresso de investimentos estrangeiros mostram é que a desconfiança já notória entre os empresários brasileiros com relação à política econômica do governo Dilma afeta também a disposição das grandes corporações internacionais de fazer aplicações produtivas e de médio e de longo prazos no País. Nem se alegue, como poderia fazer o governo, que isso se deve ao cenário econômico mundial ainda conturbado. Países que recebem volumes expressivos dos investimentos externos continuam a atraí-los, em volumes crescentes. Não é por fatores externos que eles diminuem no Brasil.

Fonte: O Estado de São Paulo 
Seção: Economia 
Publicação: 16/10/2014



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