quarta-feira, 26 de novembro de 2014

As novas estrelas asiáticas da manufatura mundial

Economia
Enquanto o crescimento das exportações da China vem desacelerando drasticamente nos últimos anos, um punhado de países vizinhos está se beneficiando. Vietnã, Camboja, Laos e Mianmar elevaram suas exportações numa expressiva média de quase 20% ao ano nos últimos quatro anos, ao passo que o crescimento das exportações chinesas caiu de 31% para menos de 8% no mesmo período.
 Para a população desses países em ascensão, o aumento das exportações significa mais empregos, mais indústrias e mais dinheiro para gastar. Não é de surpreender que a média de crescimento econômico desses países esteja subindo, tendo atingido 7,3% em 2013, contra 5,9% cinco anos atrás. No mesmo período, o crescimento da China caiu de 9,6% para 7,7%.
 Juntos, Vietnã, Camboja, Laos e Mianmar, ao lado de seu vizinho maior e mais desenvolvido, a Tailândia, estão se tornando a “Nova China”.
 Apesar de a economia conjunta desses países ser muito menor que a da China, ela cresce rápido e demonstra um dinamismo manufatureiro que faz lembrar a China nos anos 90. Na verdade, o Produto Interno Bruto dessas cinco nações juntas, de US$ 641 bilhões no ano passado, equivale ao da China de 20 anos atrás.

 Um ponto-chave que atrai as indústrias para esses mercados emergentes é o custo baixo da mão de obra, especialmente se comparado ao da China, onde o salário médio de um operário subiu 14% ao ano nos últimos dez anos. O típico operário de fábrica na China ganha cerca de US$ 700 por mês, em comparação com US$ 250 no Vietnã, US$ 130 no Camboja, US$ 110 em Mianmar e US$ 140 em Laos.
 Com a China ficando tão cara, marcas globais estão pressionando fornecedores chineses a construir fábricas na Ásia emergente, onde os salários são baixos. E embora os salários sejam apenas uma fração dos pagos em países ocidentais, esse influxo de investimentos promete melhorar a vida de milhões de pessoas na região.
 A China certamente ainda é o centro de manufatura de gigantes do setor têxtil como Luen Thai, Shenzhou International e Pacific Textiles, mas hoje em dia essas empresas estão sendo encorajadas por clientes como Nike, NKE +0.54% Adidas, Uniqlo (uma divisão da Fast Retailing 9983.TO -1.23% ) e Coach a aumentar seus investimentos no Vietnã, Camboja e outras partes do Sudeste Asiático, diz Nick Beecroft, especialista em portfólio da T. Rowe Price, TROW +0.52% em Hong Kong.
  
 Em uma pesquisa feita no ano passado pela firma de consultoria McKinsey, 72% dos compradores estrangeiros disseram que planejavam comprar menos produtos manufaturados da China e mais de outros países asiáticos com custos menores. “A maior parte das empresas que estudamos” que só compram seus produtos da China “nos dizem que, ao longo dos próximos cinco a dez anos, 30% a 40% [de suas compras] virão da China, e 30% a 40% do Vietnã e Camboja”, diz Bobby Bao, que gerencia o fundo Fidelity China Region, em Hong Kong.

 Uma fã da região emergente é a americana VF, dona das marcas Timberland, Nautica e North Face. A empresa compra hoje 17% de seus produtos, incluindo agasalhos, mochilas e calçados, do Vietnã. A China, em contrapartida, responde hoje por cerca de 24% da produção de agasalhos da VF, uma queda em relação aos mais de 30% de dois anos atrás. Tom Nelson, que lidera o departamento de aquisição de produtos e serviços da VF, diz: “O Vietnã tem 93 milhões de pessoas; elas são jovens; elas precisam trabalhar. Muitos negócios se mudaram da China para o Vietnã e talvez ainda mais da Indonésia para o Vietnã. A eficiência é boa e também é fácil montar e administrar fábricas.”
 William Fung, presidente do conselho da Li & Fung, LFUGY -1.79% grande empresa de produção terceirizada, comenta que no nível de produtos como roupas, brinquedos e sapatos “você verá uma migração para o Vietnã, Camboja, Bangladesh e, o destino mais recente, Mianmar”.
 A China ainda atrai mais de US$ 300 bilhões de investimentos diretos líquidos, mas apenas 38% são gastos em fábricas, uma queda em relação aos 56% de 2009. “É um forte declínio”, diz Derek Scissors, do centro de estudos American Enterprise Institute. “Empresas estrangeiras estão consideravelmente menos interessadas na China como base manufatureira.”
 O melhor exemplo de sucesso do Sudeste Asiático é o Vietnã. “Você precisa de níveis altos de poupança, terra disponível, mercado de trabalho livre e mão de obra barata. O Vietnã é o mais próximo [da China] e tem tudo isso”, diz Jonathan Woetzel, um consultor da McKinsey em Xangai. Outrora um dos países mais pobres do mundo, o Vietnã está hoje na categoria “classe média baixa”, segundo o Banco Mundial. Pouco mais de 10% de sua população vive na pobreza e sua taxa de alfabetização alcança hoje 94%.
 Ainda assim, a demanda doméstica tem sido fraca, num momento em que o Vietnã tenta conter a inadimplência no sistema bancário. Hanói quer reduzir empréstimos incobráveis para 3% até o fim de 2015, comparado com 4,1% em julho. Recentemente, as agências de classificação de crédito Moody’s MCO +0.60% e Fitch elevaram a nota do Vietnã. Em 2015, o crescimento econômico deve acelerar para 6,2%, ante 5,4% este ano.
 Os vietnamitas também estão começando a fabricar produtos mais sofisticados. O país se beneficia da proximidade da cadeia de fornecimento de eletrônicos. A fabricante americana de chips Intel fez seu primeiro investimento no país em 2010. Uma razão: A manufatura de produtos sofisticados paga um imposto corporativo de 10%, menos da metade do imposto normal de 22%. O investimento da Intel teve um efeito multiplicador. Empresas de Taiwan, Japão e Coreia do Sul seguiram seus passos.
 A Samsung Electronics 005930.SE -2.46% e a LG Electronics 066570.SE -1.21%anunciaram investimentos grandes no país, incluindo uma fábrica de smartphones da Samsung orçada em US$ 3 bilhões, o que eleva o investimento total da empresa no Vietnã para cerca de US$ 11 bilhões. Até o fim de 2015, a Samsung espera estar produzindo 40% de seus telefones no Vietnã. “Isso substitui o trabalho de montagem que estava sendo feito na Coreia e China. Estimula outros fornecedores a se mudarem”, diz Simon Male, diretor de renda variável na Ásia da Auerbach Grayson.
 Os telefones já superaram os têxteis como o principal produto de exportação do Vietnã. E, no próximo ano, a Intel prevê que estará produzindo 80% de seus chips de computador no país.

Fonte: The Wall Street Journal Americas 
Seção: Economia 
Publicação: 25/11/2014

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