sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

O Brasil está preparado para o futuro?

Tarcisio Angelo Mascarim*

Respondendo  à  pergunta  do  título, acredito que vai depender da política a ser adotada pela nova equipe econômica nomeada pelo governo federal, pois a continuidade da política anterior seria um suicídio para o nosso país.
Em dezembro passado, foram publicados na Revista Exame, em matéria escrita por João Pedro Caleiro, os cinco perigos econômicos para 2015 e adiante, ditados por Nouriel Roubini, economista estadunidense, nascido em Istambul, Turquia, e presidente da RGE Monitor, consultoria especializada em análise financeira. Antes de abordá-los, apresento alguns dados divulgados pelo mesmo veículo sobre a posição do Brasil perante o mundo.
O  Banco  Mundial,  na  pesquisa  global  Economic  Prospects,  apresenta  o  ano de 2014 como decepcionante, com crescimento mundial de 2,6%. E mais: em 2014, o Brasil, com o crescimento de 0,1%, é inferior ao desempenho de todos os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e Africa do Sul). Por fim, o Banco termina o relatório, ressaltando que, apesar dos riscos para a economia mundial serem consideráveis, os países com quadros políticos relativamente mais credíveis e governos orientados para as reformas estão em melhor posição para enfrentar os desafios de 2015.
Para  isso,  o  Brasil  precisa  fazer  uma  reforma  tributária,  pois  tem uma das maiores taxas de impostos sobre empresas, de acordo com levantamento da PwC (Pricewaterhouse Coopers), no qual, entre 189 países, figura-se em 11o. lugar. Precisa     melhorar   a    sua   competitividade,   pois   encontra-se   em    57o.  lugar entre 144 países, e, entre  os   países   preparados   para  o  futuro, está  em  69o.  lugar, entre 148 países.
Com  esta  posição  econômica perante o mundo, segundo Roubini, somente a mudança drástica da política econômica brasileira poderá suportar os cinco perigos econômicos para 2015 e adiante. Confira os principais trechos da matéria:
“1- A Zona do Euro como força desestabilizadora. A Zona do Euro tem estado relativamente calma no campo financeiro, mas não conseguiu retornar o crescimento, diminuir o desemprego ou afastar o periogo de deflação – e os efeitos disso estão aparecendo na política. Na Espanha e na Grécia, os partidos anti-euro e anti-austeridade lideram nas pesquisas. Na França, a neo-facista Marine Le Pen ganha espaço. Enquanto isso, a toda-poderosa Alemanha desacelera mas ainda resiste em gastar mais ou dar o aval para uma nova injeção de recursos via Banco Central Europeu. O perigo é que sem crescimento e sem inflação, a Europa possa se tornar um novo Japão e, dessa forma, não haveria como manter a dívida dos PIGS (Portugal, Itália, Grécia e Espanha) em uma trajetória sustentável.
2- O perigo de implosão da Abenomics. Já faz dois anos que o primeiro-ministro Shinzo Abe chegou ao poder prometendo ressucitar a economia com três flechas: estímulo fiscal, expansão monetária e reformas estruturais. As duas primeiras foram para frente, mas a terceira não – e os resultados decepcionaram. O iene se desvalorizou e o mercado de ações explodiu, mas a inflação e o boom das exportações não vieram – as empresas simplesmente aumentaram seus lucros ou investiram em outro lugar. Enquanto isso, o crescimento cedeu diante de um aumento de impostos destinado a conter a dívida explosiva (mais que o dobro do PIB). Abe foi confirmado novamente no cargo este mês e segue com seu plano, mas algo precisa melhorar para manter viva a ideia de que o Japão tem rumo.
3- O complicado reequilíbrio da China. Desde a crise de 2009, a China injetou trilhões e trilhões de dólares na economia, que, além de não terem sido muito bem utilizados, podem estar criando uma pilha de dívidas insustentável. Além do mais, a economia do país depende demais do mercado imobiliário, e os preços estão caindo: 'a bolha pode ter finalmente explodido', diz Roubini. A solução, todo mundo sabe: caminhar de um  modelo baseado em investimento para um mais dependente de consumo. O problema é que a cada vez que o crescimento começa a ceder, o país deixa de lado a transição e estimula as mesmas áreas. E 'quanto mais a China empurra o problema com a barriga, maior é a chance de um pouso forçado', diz o relatório. Uma desaceleração rápida do país afundaria junto com ela o preço das commodities e o crescimento de muitos emergentes – incluindo o Brasil. 
4- Os riscos geopolíticos se acumulam. Estado islâmico, crise na Ucrânia, guerra civil na Síria, protestos em Hong Kong, ebola na Àfrica... com tanta turbulência acontecendo ao redor do mundo, Roubini está perplexo com a calma dos mercados. Um problema básico é que eles tem uma dificuldade enorme em precificar o risco de eventos sérios mais de baixa probabilidade que tem o poder de levar abaixo todo o sistema. 'Há um século atrás, os mercados ignoraram alegremente os perigos que levariam à Primeira Guerra Mundial até o verão de 1914. Hoje, eles podem estar ignorando a possibilidade muito real de que os grandes riscos macro e geopolíticos se unam para formar uma tempestade perfeita', diz o relatório.
5- Dólar forte: um choque para o sistema.Quem acompanha a cotação do dólar já percebeu: ele está subindo, e muito, e não é só no Brasil. Isso acontece porque a moeda americana é um ativo seguro e a economia dos Estados Unidos é a única do mundo desenvolvido que cresce de forma vigorosa. Europa, Japão e China injetam dinheiro para desvalorizar suas moedas, ganhar competividade e crescer através de exportações enquanto os americanos pensam é em aumentar sua taxa de juros pela primeira vez desde a crise. A dinâmica funciona, mas só até certo ponto, e prejudica quem exporta commodities e depende de financiamento, como o Brasil. 'Com seus níveis de dívida privada e pública, os Estados Unidos não podem se dar ao luxo de se tornarem o consumidor residual gastador da economia global. Então, eventualmente, um dólar muito forte a desestabiliza', diz o relatório.” (O relatório encontra-se na íntegra no site www.exame.com.br).
Aí estão, portanto, os cinco perigos econômicos para 2015 e adiante, para que a nova equipe econômica do governo, estude e se debruce para encontrar uma política econômica adequada para enfrentar estes perigos.

(Tarcisio Angelo Mascarim é secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e diretor do SIMESPI)

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