segunda-feira, 6 de abril de 2015

Estelionato eleitoral em 13 atos


Tarcisio Angelo Mascarim

Recebi a edição da carta da “Brasil Real – Cartas de Conjuntura ITV – no.121 – Dezembro/2014”, do Instituto Teotônio Vilela, com o título “Estelionato eleitoral em 13 atos”, que tomo a liberdade de transcrever, na íntegra, apenas a sua síntese, e um resumo dos 13 atos, pois a carta é longa:

“Síntese: Dilma Rousseff foi eleita com base num discurso que não encontra eco nas atitudes que vem tomando desde a vitória em outubro. O que ela, durante a campanha, acusava os adversários de pretender fazer, seu governo tem posto em prática nas últimas semanas. Mas as medidas que a petista promete tomar não são as mesmas que a oposição tomaria. Pelo simples fato de que Dilma, pela falta de credibilidade que carrega em função do que fez durante seus primeiros quatro anos de mandato, pagará muito mais caro para convencer os agentes econômicos da sinceridade de suas intenções. O estelionato eleitoral que resultou na eleição dela alimenta a desconfiança.

Dilma Rousseff prepara-se para tomar posse de seu segundo mandato presidencial dentro de poucos dias. Assim como sucedeu durante toda a companha, a petista continua sem revelar aos brasileiros quais são seus reais planos e suas verdadeiras intenções. O que ficou bastante claro desde a eleição de 26 de outubro é que a presidente da República obteve mais quatro anos com base em compromissos falsificados e em promessas irrealistas. Seus atos posteriores são a mais clara expressão das contradições entre o discurso e a prática petista.

Tudo, simplesmente tudo, o que Dilma e sua equipe fizeram a partir de fins de outubro colide com o que ela pregou ao longo da disputa eleitoral. A presidente faz o que acusava os adversários de pretender fazer. Mas paga – e pagará – um preço muito mais alto para obter os resultados que seu governo até agora não alcançou. Pela simples razão de que sua palavra ressente-se da falta de credibilidade, sua postura inspira pouca confiança e sua má gestão recomenda a cautela. A seguir, um rosário das contradições de Dilma, as evidências de que sua vitória nas urnas representou um estelionato eleitoral, encenado em 13 atos”.

Abaixo, um resumo dos 13 atos:

Juros
Na campanha, a petista acusou o senhor (Aécio) que vai elevar a taxa de juros, provocando desemprego, arrocho salarial e altas taxas de juros. Três dias depois das eleições, o Banco Central aumentou a taxa básica de juros. Em dezembro fez o mesmo, elevando a Selic para 11,75%, um ponto acima de quando assumiu o cargo. A promessa de reduzir os juros reais a 2% ao ano ficou no caminho; hoje, estão acima de 6%.

Rombo Fiscal
Na CNA, em agosto, Dilma afiançou: “Teremos condições de cumprir o superávit primário previsto no começo do ano”. Em 25/9, em visita à Bahia, reafirmou: “O Brasil não está desequilibrado. Nós não acreditamos em choque fiscal. Isso é uma forma incorreta de tratar questão fiscal no Brasil”. No Palácio do Planalto, em 1/10, reiterou: “Temos tido um desempenho na área fiscal inquestionável. Inquestionável”. 

Um mês depois do segundo turno, o governo do PT mandou projeto de lei ao Congresso baixando a meta fiscal e permitindo que o governo sequer a cumpra. Agora, o governo reeleito anuncia a intenção de promover um arrocho fiscal que pode chegar a R$ 100 bilhões no próximo ano.

Inflação
Dilma sustentou em reiteradas oportunidades, que a inflação estava “sob controle”. Também desdenhou de medidas para controlar a subida dos preços ao longo de seu primeiro mandato.

Embora o Banco Central tenha aumentado duas vezes os juros para fazer frente à ameaça de alta dos preços, Dilma será a primeira presidente desde a estabilização a entregar uma taxa maior do que recebeu.

PIB
Em 29/8, em Salvador, onde foi divulgado que o PIB brasileiro encolhera 0,6% no segundo trimestre do ano, Dilma argumentou: “Acho que o resultado é algo momentâneo. Acho que no segundo semestre teremos uma grande recuperação”. No terceiro trimestre, ao contrário do que Dilma previra, a economia brasileira continua estagnada, sem crescer quase nada (0,1%). Neste ano, o crescimento será perto de zero, fazendo do governo atual o de pior desempenho desde Fernando Collor.

Impostos
No debate no SBT entre os presidenciáveis, Dilma afirmou: “(A oposição) pensa em uma forma de visão que é desempregar, arrochar, aumentar preço de tarifa e aumentar impostos”.

Para fechar as contas públicas no ano que vem, o Palácio do Planalto fez circular a informação de que, alguns tributos deverão ser aumentados. A lista de reajustes é extensa. Com Dilma, a carga tributária brasileira subiu quase 2,5 pontos percentuais do PIB. É um das mais altas do mundo em desenvolvimento.
Bancos públicos
Na sabatina promovida pelo jornal O Globo, em 12/9, a candidata Dilma afirmou: “Diminuir o papel dos bancos públicos vai acabar com o financiamento do investimento, da agricultura, de todas as obrar de infraestrutura. É uma irresponsabilidade”. Sua campanha acusava os adversários de querer desidratar o BNDES, privatizar a Caixa e o Banco do Brasil.
O BNDES já aumentou os juros para financiamentos de longo prazo. O novo ministro da Fazenda defende que os repasses para os bancos públicos cessem e o novo ministro de Desenvolvimento diz que agora as grandes empresas do país terão que buscar alternativas de financiamento. O governo já anunciou a intenção de vender parte das ações que tem na Caixa.

Banqueiros
Dilma em 9/9, em Belo Horizonte, na intenção de alvejar Marina Silva, acusou: “Não tenho banqueiro me apoiando e me sustentando”. Sua campanha na TV fez coro: “(A vitória da oposição) significaria entregar aos banqueiros um grande poder de decisão sobre sua vida e de sua familia”.

Uma vez eleita, Dilma correu a cata de um banqueiro que aceitasse o desafio de consertar seu governo. Não conseguindo o banqueiro, presidente do Bradesco, em 21/11 a presidente anunciou seu novo ministro da Fazenda: Joaquim Levy, oriundo do mesmo banco.

Petrobras 
Em julho de 2014, com a Petrobras já atolada em denúncias de corrupção, Dilma afirmou: “Quem olhar o que aconteceu com a Petrobrás nos últimos dez anos e projetar para o futuro conclui que fizemos um grande ciclo. Eu estive presente em todos os momentos”. Dilma foi ministra de Minas e Energia, ministra-chefe da Casa Civil, presidiu o Conselho de Administração da Petrobras. Foi a época em que mais ocorreram casos de corrupção na companhia. Alguns dos envolvidos na Operação Lava-Jato já afirmaram que parte dos recursos foi dada em doação à campanha de Dilma em 2010, parte foi remetida ao exterior e parte foi entregue em espécie ao PT. Revelações recentes mostram que há muito tempo a diretoria da Petrobrás sabia das irregularidades que se passavam por lá.

Tarifaço
Dilma em fins de julho foi à CNI falar a industriais e empresários. Sobre o risco de aumento de tarifas públicas, estrilou: “O que justifica essa hipótese do tarifaço? Significa a determinação em criar um movimento para instaurar o pessimismo, comprometendo o crescimento do país”.

Após as eleições a Petrobras anunciou reajuste na gasolina e no diesel. Hoje, pagamos pelo combustíveis, em média, cerca de 25% mais caro.

Energia elétrica
Dilma fez pronunciamento na TV, pouco antes das eleições, em que garantiu: “Os investimentos feitos em geração e transmissão de energia permitem hoje ao Brasil superar as dificuldades momentâneas, mantendo a política de tarifas baixas”. Na campanha, manteve o discurso falso de que o país não corre risco de apagões. Logo após a eleição, a Aneel informou que as tarifas de energia subiram 17% neste ano e estima que devem subir mais 25% em 2015. A redução que Dilma prometeu em rede nacional virou fumaça, não sem antes desestruturar por completo o setor elétrico pela truculenta intervenção determinada pela presidente em 2012.

Direitos trabalhistas
Em setembro, em gravação de campanha, Dilma reitera o que havia dito poucos dias antes a empresários reunidos em Campinas: “Eu não mudo os direitos trabalhistas nem que a vaca tussa”. Recebeu efusivos aplausos da plateia como resposta e produziu uma reluzente peça de campanha.

Após a vitória nas urnas, em 7/11, apenas 12 dias após a eleição, o governo anunciou a intenção – e desde então a vem reiterando – de cortar despesas com pagamento de pensões, seguro-desemprego, auxilio-doença e abono salarial. A geração de empregos no país caiu em todos os anos do governo Dilma, 2014 será o de pior desempenho para a criação de vagas desde o inicio do século. 

Miséria
Em 17/9, Dilma em Aparecida (SP), em debate com os demais presidenciáveis, promovido pela CNBB, disse: “Quem vai ganhar essas eleições é quem mudou o Brasil, quem reduziu a miséria”. 

Em 5/11, apenas dez dias após a eleição, o Ipea revelou que a miséria no país aumentou 3,7% em 2013, a primeira alta desde 2003. O contingente de miseráveis ganhou 370 mil novas pessoas. O número chegou a circular durante a campanha eleitoral, mas o governo do PT impediu os pesquisadores do Ipea de o publicarem oficialmente. 

Pessimismo
Numa noite de máio passado, Dilma juntou um grupo de mulheres jornalistas no Palácio da Alvorada. Entre uma ou outra frase para tentar criar efeito e quebrar o gelo com a opinião pública – na época, a popularidade da presidente desceu a seu mais baixo nível – ela disse: “É absurda essa história de o Brasil explodir em 2015. É ridículo. Pelo contrário, o Brasil vai bombar”.

E a carta termina:

“Por tudo o que se prevê para 2015, nem é preciso mostrar quão contraditório é o que Dilma disse às mulheres jornalistas e a realidade do país que desponta no horizonte a partir do próximo ano. As bombas que a presidente anteviu são, na realidade, de natureza bem distinta e já estão estourando – e bem no colo da população brasileira, parte dela enganada pela petista na eleição”.

(Tarcisio Angelo Mascarim é secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e diretor do SIMESPI)

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